Exposição "Doce de Santo" - Junho/2009
Galeria Acbeu - Salvador/BA
“DOCE DE SANTO”
Trabalho de Josemar Antonio, que participou do projeto:
“DOCE DE SANTO”
Este
projeto nasceu de questionamentos sobre os santos como “provedores de acesso rápido
a Deus”, tendo como gênese conceitual e matérica, o trabalho de pesquisa sobre religiosidade.
Desta forma, o projeto “DOCE DE SANTO” foi pensado para recortar e pontuar
fragmentos de vivências da cultura popular, visando especialmente o desdobramento
das pesquisas iniciadas sobre o tema referido. Inicialmente, foi abordada a banalização
do sagrado, a sacralização do homem e a transformação de santos numa ótica de
verdadeiros super-heróis da contemporaneidade.
Tratou-se
de um projeto de exposição de um coletivo de artistas. A poética visual
inserida nesta proposta se constituiu em uma forma de contestação que tomou elementos pertencentes ao imaginário religioso e artístico como fonte de
sentido e significado, revelando formas híbridas como modo de compreensão e
crítica desse processo. Teve a característica de um projeto processual, pois os
trabalhos apresentados criaram possibilidades de complementação na medida
em que novas obras foram acrescentadas à proposta inicial. 365 artistas participaram, estabelecendo um diálogo entre a
matéria, a idéia e o fazer artístico ao longo do processo criativo: um artista
para cada dia do ano e seu olhar diferenciado sobre seu objeto de trabalho.
Assim, os artistas integrantes do projeto, propiciaram um entrelaçamento das suas
poéticas visuais, além de possibilitar a interlocução com a vivência de outros
pela criação de uma obra processual.
A iconografia oscilou intencionalmente entre pólos opostos. A necessidade de
associar conceitos foi criada para “DOCE DE SANTO” a partir de um impulso que
não era necessariamente nem agressão nem reação por parte do sujeito. Em primeiro
olhar, foi escolhido trabalhar com os santos Cosme e Damião por estarem
associados aos doces e guloseimas distribuídos por ocasião da sua festa, sendo
ampliado, posteriormente, para qualquer forma de leitura sobre o “duplo” de
cada artista. Como resposta dirigida ao inconsciente, na construção de uma
pretensa “compota de doce de santo”, ela se tornou referência de atributo
associado ao personagem híbrido de força e sacralidade, formando o retrato de
um “santo da contemporaneidade”, uma imagem mítica da própria necessidade de
sobrevivência. Compotas, pois, são um meio de conservação de frutos em açúcar
para que posteriormente sejam apreciados como lanche ou aperitivo. Sendo assim, obras de arte foram aprisionadas em vidros de doce, como compotas.
Esta proposta teve voz ampla e abordou repertórios de inteligibilidade de ações que evocaram
passagens temporalmente construídas na relação com o outro. Os
conceitos de duplicidade, relíquia, sagrado/profano, consumo, real/imaginário,
transparência e voyeurismo, foram trabalhados.
A mostra também permitiu ao público, acesso a um espectro mais amplo e variado
da produção artística, além de ter sido uma maneira de dar retorno a este público
que busca por contato com diversos artistas e sua produção. A seleção deste
projeto para a Galeria ACBEU foi uma oportunidade de apresentar ao fruidor, um
trabalho que vinha sendo desenvolvido em ambientes de pesquisa, de ensino, em
ateliês de artistas e ambientes afins, comungando sob o olhar da fotografia
todas as formas de expressão em artes visuais.
A
ocupação do espaço expositivo deu-se com as “compotas de santo”, distribuídas
em gôndolas
e prateleiras, como mercadoria em um supermercado. Além de tratar-se do processo criativo
e suas implicações num desdobramento contínuo, este projeto se justificou pela atualidade
da sua temática que, propôs a criação artística a partir de conexões e interlocuções
entre a cultura e a visão social, contribuindo para o desenvolvimento de ações
multidisciplinares, vivenciando uma intervenção que inclui a nossa diversidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário